sábado, 13 de junho de 2015

Cartas por ai


1982,

Cidade pequena. 12h 43

Ele anda por todas as ruas. Procura o nome do destinatário e confere o endereço. Deixa na caixa de correio, ou entrega em mãos. Seu trabalho é esse.

Mauro Henrique Figueiredo, 36 anos. A sete, trabalha no correio. Tanto tempo fazendo a mesma coisa, e nunca parou para pensar, que naqueles envelopes de papel, carimbados e com selos, estão mensagens de: saudade, amor, decepção... Mensagens que podem devastar, ou melhorar a vida de alguém. Mauro nem pensa nisso. Apenas realiza seu trabalho, e vai embora. Nem faz ideia do que as pessoas que as recebem- ou as que mandam- sentiram, ou sentirão, quando enviaram, ou receberam a carta.

Ele não sabe que a senhora da casa nº 4, da rua 6, foi parar no hospital desmaiada, depois que leu na carta envida pelo amigo do filho que mora em outra cidade, que o seu único descendente sofreu um acidente. Nem deu tempo de ela terminar a carta, e ler que ele só tinha quebrado a perna e já estava bem. Mauro também não sabia, que o careca durão da casa 20, chorou por semanas depois de receber a carta da namorada, que fugiu e largou ele. A adolescente, de cabelos castanhos lisos e sardas no rosto; recebeu a carta do namorado embarcado, e apesar de se sentir muito amada com cada frase que lia, também se sentiu triste por causa da distância. D. Eleonor, que sempre lhe oferecia um copo d'água, recebeu a carta do filho que estava nos Estados Unidos e escrevia feliz e comemorativo a notícia para a mãe, sobre a bolsa de estudos que tanto sonhou, e recentemente conseguira. Fazendo a senhora de cabelos pretos meio grisalhos, se emocionar de tanta alegria. Mauro não sabia disso! Apenas que o filho da moça morava em outro país. Porém, ele só entregava a correspondência, bebia a água, agradecia, e voltava ao trabalho.

O rapaz, já a anos no trabalho. Nunca soube o efeito que seu trabalho "simples" trouxe a vida das pessoas daquelas ruas. Apenas fez o que devia, e depois disso, fazia o que queria. Sua rotina muda as vezes, mas os programas nunca são muito diferentes. Mauro vive a vida dele sempre do mesmo jeito. Mas a dos outros, ele muda sem saber.



☼ Guilherme Correia

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